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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Cheguei em Sampa

Já estou em São Paulo, pessoal. Não se preocupem com as atualizações, pois estas continuarão normalmente.  Hoje, fiquem com mais uma aventura de Getúlio e Chico pé-pé. Abraços.

A Boca da Morte

Getúlio e Chico pé-pé estavam à beira do rio em uma pescaria emocionante, aquela em que o peixe dá uma fisgada no anzol a cada duas horas. Assim, não restava outra opção, a não ser jogar muita conversa fora e se hidratar constantemente com a “marvada”.
- Toda vez que venho pescar lembro da minha mulher Laurinda. – falou Chico pé-pé puxando prosa.
- Ora homem, mas o que tem a ver sua mulher com peixe? – disse Getúlio perdido com o assunto.
- Com peixe não, Getúlio. Tem a ver com as cobras que ficam no rio. – agora a confusão era geral.
- Você tá chamando sua mulher de jararaca? – perguntou maliciosamente Getúlio.
- Não fala isso, amigo. Eu amo minha mulher Laurinda. – Chico pé-pé concertou antes que desse um mal entendido. - Calma que vou contar a história desde o começo, aí você vai me entender.
“Há dois anos, eu participei de uma pescaria inesquecível com minha mulher Laurinda. Em apenas três horas, havíamos pegado mais de quinze peixes e o décimo sexto estava a caminho. Porém, senti uma puxada no anzol mais forte do que o comum, imaginei ser um peixe de quase cem quilos.”
- Cem quilos? Não é muito, Chico? – Getúlio ficou desconfiado.
- Meu primo já pegou um peixe de cento e cinqüenta quilos, amigo. – Chico pé-pé falou firme e convicto.
Getúlio sabia que o companheiro era o maior pescador das redondezas, por isso se ele falou, é porque é verdade.
- Continua a história, Chico. E o peixe?
“O peixe não era peixe. Tive a infelicidade de pescar uma jibóia de mais de vinte metros. O bicho agarrou o anzol e puxou com tanta força, que voei para o meio do rio.”
- Vinte metros? Acho que é digno de recorde mundial. E aí, o que você fez depois de cair no rio? – Getúlio estava empolgado com a história.
“Laurinda ficou desesperada, vendo que a cobra vinha em minha direção. Tentei nadar o mais rápido que pude buscando a margem, mas a correnteza me empurrou direto para boca do bicho. Meus olhos espantados admiravam a imensidão do monstro, nunca vi algo parecido nestas águas. A jibóia com uma boca gigantesca me comeu, não tive tempo de reagir, fui sugado pelo túnel negro da morte.”
- Pera aí, Chico. Se a cobra te pegou, não era para você está morto?
- Calma, Getúlio. Presta atenção, que ainda tem mais história.
“Depois do bicho me engolir, só pude sentir meu corpo escorregando por um tubo liso e úmido. Quando cheguei na barriga da cobra, achei os ossos do compadre José e uns bezerros ainda vivos. Achei que tudo estava perdido, deixaria a Laurinda viúva no dia mais feliz da nossa vida.”
- Bezerros vivos? – Getúlio estava amando a história do amigo.
- Bom, acho que a digestão das cobras acontece mais devagar.
- Como você saiu de lá?
“Do interior da Jibóia, eu ouvia minha mulher Laurinda chorando muito. Ela repetia direto que não saberia viver sem mim. Assim, resolvi que não poderia abandoná-la sozinha neste mundo. Procurei por qualquer coisa que me ajudasse a sair dali. Senti que a cobra buscava as profundezas do rio, eu precisava agir o quanto antes. Por sorte, encontrei minha “canivetinha” no bolso da calça. Com toda força que me restava, rasguei o coro do bicho e fugi das garras da morte certeira.”
- A jibóia morreu? – Getúlio queria saber o destino da cobra.
- Acho que não, meu amigo. O corte foi o bastante para fugir eu e um bezerro mais esperto.
- E Laurinda?
- Depois que nadei até a margem, vi Laurinda agachada soluçando na beira do rio. Sem pensar gritei o mais alto que pude. – Chico pé-pé aumentou o tom da voz. - Não chore, minha querida Laurinda. Eu estou vivo, meu amor.
Getúlio não era um homem sentimental, mas o romance daquela cena foi suficiente para lhe arrancar algumas lágrimas.
- Chico pé-pé, que história incrível. – disse Getúlio secando o rosto.
- Bom, meu amigo. Geralmente, histórias da vida real são mais emocionantes.
Manteve-se um silêncio após este comentário filosófico. Apesar do rio não estar para peixe, eles ainda ficariam aproveitando a pescaria por um bom tempo, ou pelo menos enquanto o “mé” não acabasse.

Autor: Eriol.

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