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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Getúlio Está de Volta

Olá, queridos leitores. Getúlio está de volta em mais uma magnífica história, espero que vocês gostem do humor e da moral do texto. Abraços.

Respeite os Sinais

Uma cantada de pneu... um grande estrondo... e por fim o silêncio. Getúlio do seu galho de observação assistiu a um fato inusitado. Na estrada de terra, uma Ferrari tentou desviar de um buraco e acabou passando por cima de um porco-espinho, não precisa nem dizer o que aconteceu, o pneu ficou com mais buracos do que uma peneira.
De dentro da Ferrari, saiu um “boy” indignado com o celular na mão, esbravejando marimbondos para todos os lados. Completamente descontrolado, este começou a chutar a roda como se fosse um saco de pancada. Getúlio vendo a situação deprimente do rapaz decidiu ajudá-lo, antes que na sua raiva ele resolvesse morder o outro pneu, aí seriam dois os problemas.
- Boa tarde, moço. – falou o caipira de maneira gentil.
- Não tem nada de bom, cara. – respondeu o jovem de forma grossa.
- Precisa de ajuda? – uma pergunta óbvia, porém seguindo a boa etiqueta.
- Não vejo “ninguém” que possa me ajudar. – a falta de educação do rapaz atingiu o ápice. Neste momento, Getúlio se sentiu menor que o nada e menos que o zero.
- Bom, espero que “alguém” apareça. Até mais moço, passe na minha borracharia quando precisar. – Getúlio sabia que uma mentirinha não mataria ninguém.
- Espere um pouco... Desculpe a minha grosseria, acho que fiquei muito nervoso com a situação e acabei perdendo a cabeça. – sua voz ficou doce como mel.
Nosso homem do campo iria aplicar uma lição naquele “metido” da cidade.
- Tudo bem, mas irei ajudá-lo com uma condição?
- Qual?
- Se você acertar minhas três perguntas, ligarei para o guincho mais próximo. Porém se você errar... Terá que passar a noite com as onças pintadas. – Getúlio sabia que as onças não comiam carne de segunda, mas ver o medo estampado na face do moço era reconfortante.
- Seu desgraça... – o garoto teve que engolir seco. – Tudo bem, mas como você vai ligar se aqui não tem sinal?
O caipira tirou um celular-tijolo do bolso, três vezes maior que o do rapaz, mas que era capaz de realizar ligações até para o exterior.
- Mas isto funciona? – perguntou o “boy” incrédulo.
- Tecnologia do campo, moço. Com certeza já funcionou. – sua voz transmitia segurança e confiança. - Aqui tudo é mais potente, por acaso você já viu o casco dos nossos cavalos furarem? - Getúlio acabava de marcar o primeiro gol.
- Chega de papo, faça logo as perguntas. – o garoto estava impaciente.
- Lá vai. Quando um burro fala o outro... – Getúlio balançou a cabeça como se fosse para o rapaz completar.
- O outro... abaixa a orelha. – falou convicto da resposta.
- O que a sua ainda está fazendo em pé? – o homem do campo caiu na gargalhada.
O rapaz se controlou para não explodir, precisava do caipira sabido.
- Qual é a próxima? – o jovem queria acabar logo com aquilo.
- Você acertou a primeira. Não fique bravo com a brincadeira, nós já somos quase amigos. – falou ironicamente. – Pergunta número dois. Quantos caipiras são necessários para se trocar um pneu? – com a mão direita ele mostrava o seu indicador.
- Um. – o jovem suspirou começando a entender a situação.
- Muito bem, está certo. Agora a última. Quantos caipiras você está vendo aqui? – Getúlio abriu os braços fazendo uma reverência.
- Apenas você. – o garoto ficou triste pela sua atitude anterior.
- Bom, uma pena você ter errado. – Getúlio se virou para ir embora.
- Não... Eu acertei, só tem você aqui. – sua voz era de desespero, por ver sua única ajuda partindo.
- Moço, como você disse... Não vejo “ninguém” aqui. – agora já estava uma goleada, dez a zero para o caipira.
- Você tem razão, eu errei em subestimar sua capacidade. – seu arrependimento sincero fez Getúlio se comover.
- Não vai demorar... Já tem meia hora que liguei para o guincho. Logo eles estarão aqui e você poderá ir para casa. – o rapaz abriu um sorriso de alegria, ao mesmo tempo em que aprendera a respeitar aquele homem, simples e sábio.
- Obrigado, amigo.
- Eu disse que nós seríamos amigos.
Getúlio foi embora pela estrada contente por ensinar a um garoto o valor do respeito. Com isso, os homens nunca mais se esqueceriam de que no campo existem pessoas tão espertas e maravilhosas quanto na cidade.

Autor: Eriol

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