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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Esclarecimento aos Leitores

Chico pé-pé sumiu? Não vai mais escrever sobre ele? Cadê o companheiro do Getúlio? Hoje estou respondendo a todas estas perguntas com um novíssimo texto da série. O nosso carismático personagem está de volta, pronto para divertir a galera com suas histórias inusitadas. Abraços.

Lua de Sal

No Bar do Zeca, três “cabras” valentes estavam contando vantagem, era um tal de fiz aquilo que não tinha fim. A imaginação daqueles homens criava situações que até Deus duvidava, porém quem iria provar a veracidade?
- E foi assim que matei o espantalho amaldiçoado. – concluiu Miço vaidoso, bem na hora que Chico pé-pé adentrou o local.
- Noite peãozada... - os homens saudaram o caipira erguendo as suas canecas.
- Finalmente chegou alguém mais corajoso que a gente! – animou-se Geraldo.
- Junte-se a nós, companheiro. – falou João já puxando outra cadeira para mesa.
Chico parecia uma celebridade, sua presença despertou até mesmo os bebuns que beiravam o coma alcoólico.
- Com licença. - ele se juntou ao trio parada dura, enquanto todos aguardavam ansiosos.
- Bom... Eu tenho uma história para contar, mas não posso começar de bico seco. – disse o caipira fazendo charminho.
Todos olharam feio para o dono do bar, que imediatamente serviu a “branquinha”.
- Agora sim. – ele sorveu aquele néctar dos céus e sentiu suas idéias ficando no ponto. - Isto aconteceu quando eu tinha oito anos... – uma breve pausa para dar o suspense.

“... foi num dia de lua cheia, mamãe estava na cozinha e papai no cafezal. Eu brincava de escalar árvores, próximo de casa, quando um senhor de roupas rasgadas bateu em nossa porta. Do alto, pude vê-lo conversar com minha irmã caçula, mas não durou nem vinte segundos.
Resolvi descer e ir para dentro, estava curioso para saber o que o homem queria com a gente. Quando entrei em casa, ouvi mamãe gritar furiosa com Ritinha.
- Por que você não deu o sal?
- Desculpa, eu não sabia.
Fiquei um tempo na sala, até as coisas se acalmarem. Depois disso tudo, fui saber com Ritinha o que ela havia feito de errado.
 - Mas o que tem a ver o sal, mana?
- Mamãe disse que se não dermos o sal ao moço, à noite ele volta como lobisomem.
- Vixe, isto é sério?
- Você não viu como ela ficou brava?”

Os homens do bar estavam cada vez mais interessados pela história.
- Vamos, Chico. Continue...

“... passamos o dia normalmente, mas tudo ficou tenso quando anoiteceu. Nós três fomos para frente de casa esperar o retorno de papai. Ficamos felizes quando ele apontou na cerca são e salvo. Porém, sentimos um arrepio ao ouvir logo em seguida aquele uivo demoníaco.”

Chico pé-pé parou abruptamente, não podia acreditar no que via.
- Ora, Miço... tome tento... larga dos braços do Geraldo. Cê é homem ou um saco de batatas? - todos riram ao verem o primeiro valentão sucumbir.
- Vamos, amigo. Não ligue para eles, continue...

“Onde eu parei... Já sei. Quando ouvimos o uivo do animal, mamãe gritou desesperada:
- Antônio, corre pelo amor de Deus, o lobisomem tá atrás de você!
Ele se virou e avistou a uns cinqüenta metros de distância um bicho peludo, meio homem meio lobo, de garras afiadas, com horripilantes olhos verdes, vindo em sua direção. Papai saiu em disparada feito lebre quando foge da onça.
- Rápido amor, olha o bicho, pai cuidado... - nossas vozes se misturaram em um coro desorganizado.”

O clima foi quebrado mais uma vez.
- Tenho que ir embora. – falou João aparentemente preocupado e já se levantando.
- Mas você vai sozinho pela estrada? – perguntou Geraldo visivelmente abalado.
- É... não... vocês não vão comigo? – seus dois amigos balançaram a cabeça negativamente.
Geraldo precisava disfarçar, então deu uma desculpa esfarrapada.
- Acho que vou ficar mais um pouco para saber o final. – sentou-se de volta à mesa. - Chico, pode continuar... – risos contidos se espalharam pelo bar.

“Então vamos para o final... Meu pai conseguiu chegar antes do demônio, entramos em casa rapidamente, e trancamos todas as portas e janelas. Ficamos os quatro ajoelhados em frente de Nossa Senhora rogando proteção. Enquanto isso, o monstro correu pelo telhado, arranhou a porta de madeira sem parar e uivou tenebrosamente até amanhecer. Foi a pior noite de toda minha vida...”

Os expectadores estavam boquiabertos.
- E como vocês se livraram dele? – perguntou o dono do bar curioso.
- No outro dia, o mesmo senhor passou pedindo sal, mas desta vez nós não negamos.
- Hum... Chico, suas histórias são as melhores. – a peãozada concordava em grau e gênero.
Os três “cabras” valentes se levantaram e decidiram seguir estrada juntos. Despediram-se dos amigos, pagaram a conta... Mas quando estavam para sair, uma pergunta inesperada fez com que eles ficassem pálidos. No canto direito do salão, um homem maltrapilho se pronunciou:
- Ei rapazes... Vocês têm sal para me dar?

Autor: Eriol

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